sábado, 31 de maio de 2014
sexta-feira, 30 de maio de 2014
quinta-feira, 29 de maio de 2014
ABORTO - NÃO BASTA SER CONTRA
Entre nossos políticos e burocratas,
assistentes sociais e ativistas, militantes e intelectuais, existe uma
tendência a tratar o aborto como prática normal, e sua liberalização como um
alvo desejável. O aborto que se pretende legalizar no Brasil é um tipo de
homicídio. Os que desejam sua legalização querem que o governo promova aquilo
que é mau e dificulte aquilo que é bom. Nessa inversão de vida e morte, a
mulher que teme a Deus nada contra a corrente da sociedade contemporânea. Faz
ela muito bem.
Porém,
sua estratégia muitas vezes é incompleta. É que, em diversas ocasiões nosso
combate ao mal deixa a desejar, não vai além do básico. Para não dizer falso
testemunho contra o próximo, basta fechar a boca. Para defender a honra do seu
próximo, em palavra e pensamento, é preciso um esforço consideravelmente maior.
Na luta contra o pecado, a tendência é pensar que basta não fazer o mal. É
muito mais difícil ir além, promovendo ativamente o bem que esse pecado fere.
Além
disso, é fácil e cômodo cruzar os braços e condenar, na vida dos outros, um
tipo de pecado que você jamais planejou cometer. Muita gente nas igrejas
critica o traficante de drogas. Um número significativamente menor denuncia o
uso trivial do nome de Deus no dia-a-dia. No combate ao aborto, não basta se
abster de matar. Se parar por aí, você corre o risco de ignorar um outro lado
desse pecado: a promoção da vida.
Já faz
algum tempo que a noção de dignidade da vida humana, criada à imagem e
semelhança de Deus, tem sido ignorada pela nossa sociedade. Como reverter essa
situação? “Um ponto de partida para promover a vida”, diz minha esposa, que
completou um treinamento para lidar com mulheres que estão pensando em abortar,
“é mudar o conceito das pessoas a respeito do que é um bebê”. Hoje, uma
gravidez é vista mais como um novo orçamento, e um bebê como uma nova variável
nos cálculos da família.
Um
antídoto a isso é absorver, novamente, a visão bíblica da vida humana e de sua
multiplicação. Crescer e multiplicar é uma forma de resposta ao mandato
cultural que Deus nos deu, registrado em Gênesis. É uma das missões que se deve
buscar, com a ajuda divina, no casamento, conforme a forma litúrgica da
celebração do matrimônio nos ensina. É uma bênção de Deus, conforme lemos nos
Salmos e na história de várias mulheres piedosas como Sara e Ana.
Escravo
no Egito, o povo de Deus via à sua volta uma cultura pagã que encarava os
filhos mais ou menos como a nossa cultura os enxerga hoje. Sabe-se que a
contracepção era praticada entre os egípcios da antiguidade. Não temos certeza
quanto à frequência dessa prática, mas sabemos que, lá e no deserto, Israel
teve contato com culturas que viam o crescimento populacional como algo
negativo – uma percepção cristalizada nos mitos da antiga mesopotâmia.
Hoje,
com base na visão da vida humana como uma variável desafiadora no orçamento,
como estraga-prazeres, como atraso de carreira, muita gente pensa no aborto
como uma possível saída. Outros, querendo mostrar algum vestígio de
consciência, optam pelo argumento do “coitado”. Coitado do bebê que vai nascer
neste mundo, cheio de desastres humanos e naturais, cheio de violência e
miséria, cheio de desespero. Seria melhor nem ter nascido!
Mas
isso, além de loucura fria e calculista, é um argumento sem base. A Bíblia nos
conta que o povo de Israel, mesmo sofrendo o jugo da escravidão, cresceu e se
multiplicou a ponto de fazer tremer de medo os seus escravizadores egípcios. A
Bíblia exalta o heroísmo das parteiras hebreias que resistiram à política de
genocídio de bebês imposta por Faraó. E isso para ficar só no Antigo
Testamento.
Pergunto:
e você? Como você enxerga a gravidez, o bebê em formação? Como é a sua
linguagem? Negativa? Você usa termos como “gravidez indesejada” ou coisa do
tipo para rotular certas situações? Ou será que você a enxerga sob a ótica da
Palavra de Deus? A sua atitude pessoal e até mesmo o seu modo de falar têm um
grande peso. E das duas, uma: ou elas reproduzem o que nossa sociedade
anticristã propõe, ou nadam contra a maré, promovendo a vida segundo a visão
cristã.
Em mais
de uma ocasião, presenciei a mesma triste conversa. Fala-se duma família mais
humilde. A mãe “está grávida de novo!” E então, alguém diz: “Será que ela não
sabe? É tanta irresponsabilidade!” E, com isso, fica a implicação de que o
ciclo de pobreza dessa família será perpetuado pela nova vida que está para
chegar. Certa vez, vi uma irmã em Cristo criticar assim a mulher de família
pobre que está “grávida de novo”. Isso me deixou com tanta vergonha!
Esse
tipo de opinião reflete exatamente o que a Bíblia rejeita como paradigma para
enxergar a vida humana preciosa. Primeiro, trata-se de uma visão extremamente
materialista. A criança é reduzida a um problema, ou a um exemplo de
“ignorância” dos pais. Segundo, ela é reduzida a uma variável, que os pais
fracassaram em “controlar”. Terceiro, ocorre uma inversão de valores. Obedecer
a voz de Deus, crescendo e multiplicando, é visto como “irresponsabilidade”.
Nada disso é opinião digna duma pessoa que se diz cristã. Pelo contrário, isso
beira a desejar que aquela criança não existisse. Isso beira a um “aborto no
coração”.
Pode ser
que você não pense nem fale assim a respeito da sua própria gravidez ou da
gravidez de outras mulheres. Ótimo. Mas, em todo o caso, fica aqui o lembrete:
a cada opinião que é dada, um sistema de pensamento é reproduzido. Esse sistema
afirma a verdade de Deus ou a nega. Talvez haja algo a mais que você possa
fazer ao ouvir uma conversa desse teor, ou talvez você possa promover a vida
humana de outras formas mais ativas.
O caso de
famílias carentes é um caso que demanda atenção especial. Uma gravidez em
condições de penúria pode ser extremamente preocupante, não somente do ponto de
vista financeiro como também médico e psicológico. Só que isso não significa
necessariamente que toda família nessa situação deva se portar de forma
negativa. “Uma das coisas que às vezes é difícil perceber”, diz minha esposa,
“é que, em casos onde se sofre tanta tristeza na vida, um filho é um presente
precioso para trazer conforto e consolo”.
Refletir
uma percepção bíblica do valor da vida é um grande passo na direção certa.
Outro passo é preocupar-se, de coração, com a causa da proteção da vida. De
preferência, procure saber a respeito de organizações cristãs que têm essa
missão: orfanatos, creches ou hospitais. Procure doar seu tempo, atenção e
dinheiro em apoio. Caso você seja profissional da saúde, por que não entrar em
contato com outras pessoas que compartilham a mesma fé e os mesmos princípios,
buscando um projeto comum de promoção da vida?
A ação
cristã em isolamento muitas vezes é pouco efetiva e tem pequeno alcance. Daí a
necessidade de se associar. Na luta contra o aborto, é verdade que um grupo
grande de cristãos já percebeu essa realidade e tem buscado na militância e na
cobrança política evitar o assassinato de milhares e criancinhas. Porém, um
outro lado da nossa responsabilidade é justamente a missão positiva de promover
a vida, indo além do comportamento e linguagem individuais.
Uma
associação efetiva de cristãos na luta pela promoção da vida deve se pautar
pela lógica própria desse tipo de organização. Ela terá uma missão bem
explícita, esclarecendo quais são as suas ferramentas: treinamento de
conselheiros, levantamento de fundos, assistência local a famílias
necessitadas, parceria com planos e instituições de saúde, e assim por diante.
Essa associação não será eficaz se for vista como uma empresa ou, por outro
lado, como um braço da igreja institucional. Ela será inócua se não tiver uma
filosofia bem explicada a respeito da vida humana e dos métodos que devem ser
usados para sua promoção. Ela será deformada em sua missão caso se dedique
somente a pressionar o poder público.
Existem,
pelo mundo, várias organizações e movimentos promovendo a causa abortista.
Vemos alguns exemplos em nosso próprio país. A efetividade desses inimigos da
vida e amigos da agressão é espantosa. Nós contamos com armas especiais, que
não se resumem ao plano humano. Só que, nesse plano, ainda estamos
engatinhando. A atitude e linguagem que você tem é um bom começo. A associação
formal e informal dará um impulso ainda maior à nossa incipiente resposta. O
exército abortista é bem articulado e profissionalizado. Chegou a hora de pagar
na mesma moeda, dentro dos parâmetros que Deus nos permite e nos ordena seguir.
Participe ativamente da causa da promoção da vida. Ela é boa, e Deus é bom. Ele
se alegrará com sua fidelidade.
terça-feira, 27 de maio de 2014
ABORTO x SEMÂNTICA
Trocando-se
palavras, por exemplo, trocam-se conceitos e formas de pensamento, como já
avisava George Orwell em sua distópica obra “1984”. Alguns conceitos
importantes são suprimidos e outros, de menor importância, são elevados à
categoria de princípios de grande destaque. Isso acontece no dia a dia quando
somos submetidos à propaganda ou a campanhas diversas, porém quando tais
“termos manipulados” lidam diretamente com nossa vida e com os parâmetros pelos
quais julgamos tudo o que nos cerca, estamos mexendo perigosamente com as
fundações de nossa civilização.
O simples expediente de chamar uma coisa
pelo nome de outra pode gerar alterações profundas na percepção e na prática da
medicina e na sociedade como um todo. O exemplo aqui citado é o da troca da
palavra “infanticídio” (ou assassinato de bebês, se preferir) pelo termo
“aborto pós-nascimento”.
Uma breve análise dessa troca, utilizando
as ferramentas, descritas de forma sintética por Pascal Bernardin em seu livro
Maquiavel Pedagogo, pode chocar pela obviedade de tal
operação e pelos possíveis resultados, mesmo que não intencionados pelos
autores de tal proposta.
A troca de nomes (infanticídio por aborto)
foi proposta por membros da comunidade acadêmica, que discutiam em círculo
discreto há cerca de quarenta anos. Em suas discussões, recortes abstratos de
conceitos importantes, amplos e, muitas vezes escorregadios, como o de
“pessoa”, dão origem a uma série de conclusões que aos poucos ganham força e
projeção em meios especializados.
Os fatos de que tais discussões são
geradas e mantidas por autoridades acadêmicas, e que tais autoridades circulam
em meio à comunidade de estudantes e pesquisadores com grande destaque, já
bastam para que haja um forte contexto de convencimento acerca de sua
razoabilidade. Adicione isto a um periódico bem qualificado internacionalmente
- onde autores se esforçam para publicar e ganhar notoriedade científica - e o
palco está armado.
Juntando isso ao eufemismo proposto,
completa-se um importante conjunto de atividades com alto potencial de mudança
social. O eufemismo de um ato extremamente repudiado pelas pessoas comuns configura
ao mesmo tempo dois recursos psicológicos básicos na arte de convencer. Chamar uma coisa grotesca como matar um
bebê por um nome de algo menos repudiado, como um abortamento, pode ser
considerado um recurso do tipo “pé-na-porta”, onde o ouvinte corre o risco de
aceitar 12 escutando meia dúzia. Por outro lado, o mero fato de se discutir
infanticídio como algo racional já pode induzir o efeito “porta-na-cara”, no
qual um repúdio imediato pode dessensibilizar aqueles menos perceptivos e gerar
uma maior aceitação de atos aparentemente menos grotescos como o de abortar um
feto.
Tudo isso ao lado de medidas
governamentais - obrigando médicos a realizar o abortamento - pode levar
inevitavelmente ao que se chama de dissonância cognitiva, onde há uma mudança
de pensamento e de valores após realizar um ato do qual se discordava
previamente, mudança esta causada pela racionalização e introjeção do
comportamento realizado. O comportamento alterado pode ser simples como chamar
uma coisa por outro nome, e complexo como executar um ato cirúrgico imoral.
Resumindo: junte a Submissão à Autoridade,
o Conformismo Grupal, o Pé-na-Porta, o Porta-na-Cara, a Dissonância Cognitiva,
a Imposição Governamental e o reforço de tudo isso por “formadores de opinião”,
e você obterá um forte elemento de guerra cultural em ação.
Quando os autores do artigo que propunha a
troca do termo "infanticídio" por "abortamento
pós-nascimento" foram respondidos por centenas de protestos e mensagens de
repúdio, muitas vezes com alto teor de agressividade, o estrago já estava
feito. Eles, de certa forma, se desculparam dizendo que tudo não passa de um
debate de ideias. Mas quantos crimes horrendos não começaram com simples
debates de ideia?
O leite está derramado e incontáveis atos
de manipulação semântica chegam aos nossos ouvidos a cada dia, trocando
valores, camuflando intenções e propondo novas cosmovisões. O mínimo que se
pode fazer é permitir um espaço para uma verdadeira altercação intelectual,
onde tais venenos sutis possam se transformar em poderosas vacinas, e onde
propostas agressivas com palavras suaves possam ser respondidas de forma clara
e direta.
Hélio Angotti Neto é médico
oftalmologista com graduação pela Universidade Federal do Espírito Santo e
residência médica e doutorado em Ciências pela Universidade de São Paulo.
Coordena o curso de medicina do Centro Universitário do Espírito Santo
(UNESC-ES) e é o diretor da seção especializada em humanidades médicas da
revista Mirabilia. Membro da Sociedade Brasileira de Bioética, do Conselho
Brasileiro de Oftalmologia, do Comitê de Ética em Pesquisa do UNESC, do Center
for Bioethics and Human Dignity, da Associação Brasileira de Educação Médica. Coordena
o SEFAM (Seminário de Filosofia Aplicada à Medicina). 22/05/2014sexta-feira, 23 de maio de 2014
quarta-feira, 21 de maio de 2014
CAMPANHA CONTRA TRÁFICO HUMANO NA COPA DO MUNDO 2014
O prefeito da
Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida
Apostólica, cardeal João Braz de Aviz, apresentou no dia 20, pela manhã, no
Vaticano, a Campanha contra o Tráfico de Pessoas durante a Copa do Mundo 2014,
“Jogue a favor da vida – denuncie o tráfico de pessoas”.
Segundo cardeal João Braz de Aviz, “a
campanha manifesta a sintonia da vida consagrada com o sentimento do papa
perante este crime que ele mesmo tem definido como ‘a chaga no corpo da
humanidade contemporânea, uma chaga na carne de Cristo”.
Também participaram do lançamento
internacional da Campanha a integrante da Rede Um Grito pela Vida, no Brasil,
irmã Gabriella Bottani; a coordenadora da Rede Internacional da Vida Religiosa
Consagrada no enfrentamento ao tráfico de pessoas‘Talitha Kum’, irmã Estrella
Castalone; a presidente da União Internacional das Superioras Gerais, irmã
Carmem Sammut; o embaixador dos Estados Unidos ante a Santa Sé, Kenneth Francis
Hackett.
Ao recordar as palavras do papa, irmã
Gabriela disse que “não se pode permanecer indiferente, sabendo que há seres
humanos tratados como uma mercadoria”. Segundo a religiosa, este crime atinge
quase 21 milhões de pessoas no mundo. “Devemos arrancar com força do silêncio e
do medo esta grave violação da dignidade humana”, disse.
Irmã Carmem Sammut lembrou que este crime
está presente em todas as partes do mundo. “A prevenção deste tipo de tráfico
de pessoas implica a redução da demanda de serviços sexuais e para que isto
suceda há que conscientizar a opinião pública”, alertou.
No Brasil, o lançamento da Campanha
ocorreu no dia 14 de maio, durante entrevista coletiva à imprensa, em Brasília.
O evento reuniu representantes de igrejas cristãs, universidades e outras
instituições. O bispo auxiliar de Brasília e secretário geral da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Leonardo Steiner, participou do
evento, e lembrou que a iniciativa está em sintonia com o tema da Campanha da
Fraternidade deste ano, Fraternidade e Tráfico Humano. Na ocasião, dom Leonardo
disse que “o país abrirá ainda mais os olhos com o ‘gol’ que a Conferência dos
Religiosos do Brasil (CRB) está fazendo desde já, com esta Campanha, que está
incidindo como Vida Religiosa lá onde as pessoas mais sofrem, de maneira
discreta, mas muito eficaz e evangélica, consoladora e samaritana”.
A campanha “Jogue a favor da vida –
denuncie o tráfico de pessoas” tem motivado ações como debates, panfletagem,
caminhadas, celebrações, principalmente nas cidades-sede da Copa do Mundo.
Fonte: CNBB
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